KELVIN KOUBIK

Da natureza para os murais

A natureza é parte essencial do trabalho de Kelvin Koubik. Para o artista nascido em Porto Alegre em 1989 e formado em Artes Visuais pela UFRGS, a diversidade de formas e cores da natureza é uma fonte inesgotável de inspiração. “É algo que eu observo muito”, garante o artista, seja na cidade ou quando tem a oportunidade de ir para outros lugares. Entre plantas e pássaros, Kelvin tenta introduzir elementos naturais em todos os seus trabalhos.

Mesmo em obras por encomenda, as soluções que o muralista estuda estão relacionadas à natureza. Quando precisou representar o afeto num mural, ele buscou descobrir qual era a flor associada ao afeto, e foi assim que chegou nas margaridas. As imagens literais não fazem parte do repertório de Kelvin, que prefere trabalhar com símbolos, amalgamando-os em novos sentidos.

Sobre o mural para a Universidade, ele declara ter sido o maior desafio da sua carreira até aquele momento. Também reconhece a importância da Universidade acolher essas formas de arte. Quando foi chamado para fazer o mural, Kelvin iniciou um processo muito íntimo de criação. Admirador do Museu da Ciência e Tecnologia da PUCRS desde criança, ele queria reunir diversas referências externas e ao mesmo tempo manter sua identidade artística.

Kelvin começou a grafitar adolescente, com treze anos. Embora até hoje ele admire muitos grafiteiros, percebeu com o tempo que não era o que ele queria para si mesmo. “O grafite se caracteriza bastante por repetições de imagens e de linguagem”, ele explica, o que não combinava com seu desejo de fazer de cada trabalho uma novidade de acordo com o contexto do momento. Também daí vem seu encanto pela natureza: os traços orgânicos, os movimentos e a diversidade infinita da natureza sempre trazem um universo novo.

 

Após explorar o grafite, Kelvin entrou no curso de Artes Visuais aos vinte anos de idade, e lá ampliou suas habilidades. “Eu considero o ambiente acadêmico, e qualquer outro espaço de trocas e de estudo, algo que acrescenta muito. Não tem por que não usufruir dessa oportunidade: tu incorpora o que vale a pena e descarta o que não interessar”. Embora tenha críticas à Academia e comente a falta de estudos de grafite e murais no curso, ele reconhece que a graduação foi muito importante para sua formação pessoal e profissional, além de ter possibilitado o contato com muitos outros artistas.

Além disso, a universidade lhe deu algo que ele considera essencial para todo artista: repertório. Na sua formação, Kelvin estudou aquarela, desenho, performance, cerâmica, pintura e outras linguagens. “É algo que ampliou muito meu horizonte”, resume, e acredita que a presença dos murais nas paredes da PUCRS pode ampliar o horizonte dos jovens de hoje. Ao acolher a arte, a PUCRS faz um convite para quem olha essas pinturas, que talvez pense: um dia quero fazer isso. “Eu não via isso em Porto Alegre quando era mais jovem, e sempre tinha sido meu sonho. Felizmente, hoje posso viver disso”.

Para quem está começando, ele diz com humildade que não saberia dar dicas, mas logo lembra a importância de manter a tranquilidade e o cuidado com o corpo que, afinal, é um dos instrumentos de trabalho de todo artista. Especialmente para quem precisa passar muitas horas seguidas equilibrando-se de pé sobre uma plataforma com tintas e sprays, operando máquinas à mercê de chuva ou sol forte, o corpo precisa estar bem. Volta e meia, Kelvin convida pessoas para pintar com ele, e há quem participe uma só vez e não volte mais, depois de sentir o esforço físico do trabalho em murais ao ar livre.

Por fim, ele ressalta a importância do artista conseguir organizar seu próprio trabalho. Uma vez que não existe mais o mundo do gênio que fica no seu ateliê sendo visitado por curadores e marchands, é necessário lidar com as burocracias, seja as de um edital, de tirar as documentações necessárias para trabalhar ou montar um portfólio. “Não se fala muito nisso”, Kelvin lamenta, mas garante que é um investimento na própria carreira.

No seu Instagram, Kelvin compartilha muitos vídeos que documentam seu processo de criação, sempre embalados por trilhas sonoras animadas. A música é muito importante para o artista, que diz preferir os ritmos brasileiros, sobretudo os que têm influências africanas, como os Afro-sambas de Baden Powell, os afrobeats, as bandas Bixiga 70 e The Ipanemas. Mas a presença constante nos vídeos não significa que seja possível sempre escutar música no trabalho. Kelvin conta que, como costuma trabalhar com muitos equipamentos, às vezes fica impossível adicionar os fones de ouvido na paramentação. Para pintar na rua, são necessários pelo menos um chapéu e óculos escuros para aguentar o sol — se for pintar em grandes alturas, adiciona-se o capacete e outros equipamentos de segurança. “Durante o trabalho, até escuto menos música do que eu gostaria. Agora, além de tudo, também tem a máscara por causa da pandemia”, comenta Kelvin. No mesmo perfil do Instagram, durante a pandemia, ele também gravou diversas conversas com outros artistas. Vale a pena conferir nos stories a série Afluentes.

Kelvin também é membro fundador do Atelier D43, “coletivo que investiga as possibilidades do desenho face às tecnologias e linguagens artísticas contemporâneas”. Integra o duo artístico com seu irmão no projeto Koubiks e é diretor de arte no Studio Kino 23. Já participou de diversas exposições coletivas. Entre as individuais, estão Metamorphis, Amalgamorphosis e Diagnósticos. Seu site pessoal traz o registro fotográfico de diferentes obras. Desde 2014, tem seu ateliê localizado no Vila Flores, em Porto Alegre.