Referências étnicas e múltiplas culturas
Cores vibrantes e formas claras são marcas do trabalho de Paula Plim. Nascida em Porto Alegre em 1983, a artista tem graduação em Artes Visuais pela UFRGS, além de ter cursado Comunicação Visual na UniRitter e Comunicação Social na PUCRS. No começo do seu percurso artístico, ela explorou formas abstratas, mas não demorou para que a artista encontrasse seu caminho na cultura e nas tradições de outros países. A arte étnica e folclórica são grandes inspirações, pelas cores e pelas formas simples. Entre suas influências, Paula cita os bordados do povo indígena Kuna, do Panamá; a arte de recorte chamada Wycinanki, da Polônia; as esculturas alebrijes, do México; a caligrafia Fraktur; e os padrões de estampas tipicamente encontrados na América Latina e na África. "Eu não sei te explicar como funciona o meu processo, mas acho que faço um mashup das referências, que se mistura com o meu traço, as minhas características gestuais", explica Paula.
Algumas conexões são fáceis de traçar com a obra de Paula. Os bordados panamenhos do povo kuna também contam com a força das cores. Esses indígenas vivem no arquipélago de San Blas e mantêm diversas tradições ancestrais no seu modo de vida. Outra particularidade do povo kuna é seu sistema matriarcal. Nas quarenta e nove ilhas habitadas pelos kuna, as mulheres são as líderes. Elas que tomam as decisões, as festas são celebradas em sua homenagem e, após o casamento, é o noivo que se muda para a casa da mulher, e ela é quem passa a gerir a vida do casal.
Uma das tradições mais presentes no arquipélago são os bordados das molas, roupas que trazem imagens de animais ou padrões de estampa destinados a espantar maus espíritos e atrair boa sorte. Feitas à mão, as molas são a junção de diversos tecidos de diferentes cores costurados pelo avesso, o que permite uma imensa variedade de resultados finais.
Já os alebrijes são invenção do artista mexicano Pedro Linares López. Esculturas feitas de madeira ou papel, elas costumam representar criaturas imaginárias. Diz-se que López sonhou com essas figuras estranhas que gritavam para ele a palavra "alebrije", que não têm significado em espanhol. Depois que o artista deu forma a seu sonho, muitos outros artesãos seguiram seus ensinamentos, e hoje é comum encontrar alebrijes por todo o México, sobretudo no estado de Oaxaca.
Para o mural da PUCRS, a artista naturalmente buscou inspiração na estética inca. Paula conta que já se sentia muito atraída pela estética dos povos pré-colombianos e, quando recebeu o convite da Universidade, percebeu a necessidade de reduzir as referências a apenas uma cultura, já que seria impossível contemplar todas. Trabalhando em cima de um fundo preto que destaca as cores, ela coloriu os desenhos com spray. As conexões com a cultura inca estão tanto nos elementos escolhidos para o desenho quanto no estilo.
As figuras que vemos no mural estão presentes em diversas peças de arte pré-colombianas, seja em cerâmicas, esculturas de madeira e de metal ou pinturas. Mais do que objetos de decoração, as obras eram muitas vezes utilizadas em rituais ou como adornos. Na tapeçaria, os incas expressavam mensagens religiosas, sociais e políticas. Certos trajes podiam ser usados apenas por nobres, e outros eram destinados a cerimônias. Os incas teciam com fibras vegetais e lã de lhamas, alpacas e vicunhas. As cores típicas dos Andes vinham de grãos e ervas. Algumas técnicas de tecelagem perduram até hoje e podem ser vistas em diversas cidades peruanas.
A paixão de Paula por cores e padrões vem desde a infância. Tudo começou com um conjunto de aquarelas presenteado pelos pais, que também a matricularam no ateliê infantil de Denise Haesbert. Paula traça sua história de aprendizado desde aquela época. Quando entrou na graduação no Instituto de Artes, ela passou a ter contato com a arte urbana e, ao mesmo tempo, cursou Publicidade para estudar design. "Acredito que os cursos foram parte do meu processo, mas muita coisa aprendi com a cena de artistas emergentes, que não estavam no currículo", comenta. Na época, as galerias de arte urbana estavam em alta. Em Porto Alegre, Paula relembra a Galeria Adesivo e a Mundo Arte Global e, em São Paulo, a Choque Cultural. Fora do Brasil, ela acompanhava e se inspirava com o grupo norte-americano Beautiful Losers.
Além das artes visuais, Paula também sente uma forte conexão com a música. Ela não apenas trabalha ouvindo música, como alguns anos atrás ela estabeleceu uma parceria com o produtor britânico MadColour. Enquanto ele criava obras musicais, Paula ilustrava e fazia vídeos. Muitos deles podem ser vistos no YouTube. "Meu sonho era ilustrar a capa de um disco de vinil. E já fiz três até agora", Paula comemora. São suas as capas para o Dj Hum para a coletânea Jazzy Beats e também a capa de um álbum do produtor francês Proleter. Mais dois projetos semelhantes estão em andamento. Para trabalhar, Paula escuta música mais antiga: "Gosto muito de soul e de músicas que resgatam soul e funk nos samples".
No Instagram, Paula tem um perfil para pinturas e arte de rua e outro para ilustrações digitais. No seu site (em inglês), ela reúne trabalhos artísticos e registros de ilustrações para produtos. Paula é membra do estúdio de arte Paxart, sediado em Porto Alegre, dedicado à criação de obras de arte de rua. Tem obras em Cuba, México, Espanha, Portugal, Hungria, Bulgária, Chile, Polônia e diversos outros cantos do mundo. Participou de eventos internacionais como Loures Arte Pública, Festival Concreto, Meeting of Styles e MUTA Montevideo. Realizou uma residência artística em Cabo Verde e tem trabalhos publicados nos livros Graffiti Brasil e 12 Caras em 4 Partes.